Olha a Laurinha lá vai toda destemida Diz que é crescida e que prescinde dos conselhos do pai Olha ela, lá vai toda decidida Dona da vida nem duvida que é por ali que vai Olha a Laurinha à cabeça da charanga Das raparigas do recreio do liceu onde ela anda E manda na dinâmica da escola Não vai à bola com a setôra de História E não disfarça e faz a vida negra à criatura É a ditadura de quem manda só porque sim Olha a Laurinha que já fuma às escondidas do pai Com a mesada de alguém Ainda namora às escondidas da mãe Enquanto diz que não tem medo De nada nem ninguém Vai, dança até ser dia Que a vida são dois dias E tu vais ser alguém Olha a tua mãe Com um olho na novela E o outro na panela Um dia vais ser tão Dona Laura como ela Olha a Laurinha toda cheia de cidade Sem ter idade para sequer votar na junta daqui Sempre que a chamam ao quadro desatina e nada diz Mas bem que opina sobre o estado a que chegou o país Olha a Laurinha lá vai cheia de prestígio Nenhum vestígio da miúda outrora santa e singela E a mãe dela fica a vê-la da janela Ainda se lembra bem do tempo em que a Laurinha era ela A fumar às escondidas do pai com o dinheiro que alguém Subtraiu da carteira da mãe Enquanto diz ao mundo que ainda há-de vê-la ser alguém Vai, canta até ser dia Que um dia há-de ser dia E tu vais ser alguém Que é tal e qual a mãe Um olho na novela O outro na janela Um dia vais ser tão Dona Laura como ela Aproveita agora Que há-de chegar a hora Que não poupa ninguém Vais ser igual à tua mãe A filha pela trela Repete-se a novela Um dia vais ser mais Dona Laura do que ela