作词 : Daniel Ferreira 作曲 : Diego Sousa 6 e meia da manhã, mais uma casa acorda com a agitação de quem daqui a uma hora tem de tar em direcção ao Porto em cima de uma ponte e a distância do ponto onde habita ao ponto de emprego é longe Desde há muito que se habilita ao que a vida lhe reserva, sem habilitações, um mau encargo e um ordenado de merda. Mulher de mão calejada devido ao trabalho pesado, bolsos leves mas nada falta debaixo do telhado Vi-a a pôr capas em livros de histórias de encantar, a pagar livros onde aprendi a escrever e a contar. Quantas vezes soube a sal quando a fui beijar, perdi a conta às vezes que atrás de uma porta eu a vi chorar. As vezes que fez de conta e mentia-me de forma louca e sorria para mim com lágrimas a cair do céu da boca. Contou-me histórias de homens que nasceram sem meios e que alcançaram vitórias, não deixaram sonhos a meio. Pelé descalço fez o que ninguém fez com uma bola, jogou com amor à flor da pele em vez de amor à camisola Mãe, eu não sou rico,tu és a minha maior fortuna, rainha de bata preta e cola entranhada nas unhas. Princesa com [?] com mais valor que diamantes, afinal não é a comer a sopa que somos homens grandes. Hoje sou maior que tu, mas sinto que não cresci, continuo a olhar para cima sempre que preciso de ti. Acredita mãe, não sabes o quanto cintilas… Quando partires as estrelas descem para ver o quanto brilhas. Deste o teu corpo a uma máquina dentro de uma oficina, dentro de uma pensão dá o corpo uma pega da esquina. Pessoas que ganham a vida da forma que se gera a vida, a minha mãe gerou três filhos sempre com a cabeça erguida. Explorada como prostituta para termos o que nos deu, sou filho da puta e este é o amor pela puta que me pareu [Refrão] Com genótipo de rua, fenótipo de luta, protótipo que resulta da classe que a sociedade oculta com, marcas no corpo cuja origem não se refuta, do berço ao caixão, moço, eu sou um filho da puta Aquela classe sem classe, mas com a cabeça erguida. A morte corre atrás de mim, eu corro atrás da vida. Quanta da minha gente condicionada à partida, filhos de putas diferentes, irmãos na mesma sina. Desde a primária que me aplico nos trabalhos de casa, desde a primária vi como ela chega do trabalho a casa. Nunca baixei os braços, parti e fui à guerra, sonho para lá das nuvens, com os pés para lá da terra. Sabes aquele ditado: “chora que o pai dá”? Não pega, quem não tem caça com gato, cresci a seguir essa regra Deus sempre me ensinou a amar o próximo por isso é que há quem rouba quem passa: é suposto amar o próximo. Dá-me prazer olharem a minha mãe de baixo a cima e pensarem lá vai a puta que pareu mais um filho da esquina, sem saberem que os próprios filhos estão pregados na esquina. Filho da puta na faculdade que teve notas mais acima. Sei que ela passou para pagar a senha da refeição, a senha do passe para que eu passe com aplicação. Também fui educado nesses blocos de betão onde a riqueza de uns gera desgraça em cada quarteirão Não foi graças a Deus, foi graças a uma Deusa que nunca me faltou de vestir, nem comida na mesa. Encadernadora de histórias aos quadrados, educou-me. Por muito choro em casa, não faça para ver o sol aos quadrados. Sei como se cortam barras, (sei) como se traçam linhas, para filhos ignorados, para filhos de mães galinhas. Uns cantaram de galo, invejaram-te com o que não tinhas, outros com a pata na poça a tentar ser como o patinhas Dei os meus primeiros passos nessas áreas onde as primeiras palavras que ouves são ordinárias, onde se faz crime a horas extraordinárias para garantir na dispensa as coisas necessárias. Condições precárias, famílias proletárias, mulheres que saem à luta quando saem pela porta. Alimentam com o corpo, o corpo que o corpo nove meses transporta, estes são os filhos das padeiras de Aljubarrota [Refrão] Com genótipo de rua, fenótipo de luta, protótipo que resulta da classe que a sociedade oculta com, marcas no corpo cuja origem não se refuta, do berço ao caixão, moço, eu sou um filho da puta A minha mãe abriu as pernas para me dar o mundo. Não me deu tudo o que queria e sem querer deu-me tudo. Criado com filhos de criados de patrões que roubam ,vendem e desmontam por peças p’atenuar frustações. Juntei as peças, preferi outras acções, para quê roubar bens materiais se eles têm condições para voltar a tê-los de novo? Não sou burro a esse ponto e amanhã preparo fezada no mesmo ponto de encontro. Pronto para lhes roubar algo único: filho da puta roubou um posto de ensino superior público. Filho da puta rouba o amor de quem eles queriam e atraíam com carros e status quando saíam. Filho da puta, não caio no esquema deles assim,o pai deles explora os meus mas eles não me exploram a mim Para um filho da puta, falta de condições não é problema. Dá o corpo ao manifesto para quebrar esse sistema de que filhos de gente explorada nasce para ser explorada e o único ponto de fuga é aquilo que tá a degradar o quadro. No meu meio vi que meios não justificam o fim, não é o que tens é como tens, é isso que conta para mim. Homens arrependeream-se, queriam voltar atrás no tempo, ao mesmo tempo os que crescem estão a seguir o exemplo que davam, parados nos blocos a desiludir os velhotes, a iludir os putos com drogas, armas e botes. Diz-me quem é que te disse não que podes ser tudo o que querias, só porque és filho de uma operária ou filho de uma mulher a dias, porque habitas numa zona em que é cinzento todos os dias e canos quentes fazem com que as noites sejam frias. (Foda-se) Um filho da puta não fode para não ser fodido, não cospe onde come, cospe em cima de quem o tem comido. Um filho da puta só se deita com putas na cama, diz-me, quem é que te disse que uma puta não ama? Quero gerar um filho de uma puta à altura da minha mãe para poder trazer ao mundo filhos da puta também. Não me importa se ela tem bata ou esfregona, dá o corpo por um salário, se preserva o cu e a cona… Esforço-me, aplico trabalho, rigor e honra e mostro que não sou igual aos filhos da puta da zona. É dificil partir com pouco, chegar com muito, mas é impossível? Não! Pensa no assunto. Não uses é as necessidades como desculpa, usa as capacidades, aplica-te e torna-te um filho da puta. Não sou mais que tu, nem tu és mais que eu, filho de mulher da esquina, honra a esquina que te pareu! [Refrão] Com genótipo de rua, fenótipo de luta, protótipo que resulta da classe que a sociedade oculta com, marcas no corpo cuja origem não se refuta, do berço ao caixão, moço, eu sou um filho da puta É… Só gente burra é que não vai perceber o conceito desta música… Mãe, amo-te como o caralho! Do berço ao caixão eu sou um filho da puta! Com genótipo de rua, fenótipo de luta, protótipo que resulta da classe que a sociedade oculta com, marcas no corpo cuja origem não se refuta, do berço ao caixão, moço, eu sou um filho da puta